Por Milena Abreu
Para Bruno Miranda, a fotografia foi como uma salvação. Convidado do evento “Com a Palavra, o Fotógrafo”, que aconteceu na última quinta-feira, 6, na Faculdade de Comunicação da UFBA, o profissional capixaba falou sobre suas experiências de trabalho, contando sua trajetória desde a época em que viveu no Espírito Santo, até quando se mudou para São Paulo, onde mora atualmente.
O caráter salvador que o fotógrafo atribui ao seu ofício se deve às suas grandes dificuldades na escola, pois não gostava de estudar. Ao começar o curso de jornalismo, em uma faculdade particular, ele brincou que seu interesse pela fotografia começou quando conheceu um fotógrafo, que era feio e tinha uma namorada muito bonita. Durante a graduação, foi monitor de fotografia, o que lhe rendeu uma bolsa por quase todo o período em que esteve lá. Nessa época, ele já desenvolvia projetos autorais, como os ensaios: “À Margem”, em que mostra o movimento hippie moderno, e “Quinto Elemento”, sobre o Hip Hop no Espírito Santo. Ambos os projetos foram desafiadores e enriquecedores, pois, com a dificuldade de conseguir que os participantes dos movimentos aceitassem sua presença, ele desenvolveu uma maior habilidade para lidar com as pessoas.
Foi a partir desses trabalhos, feitos por iniciativa própria, que Bruno começou a ganhar espaço no mercado. Como conselho aos presentes, ele repetiu diversas vezes que, para crescer no mundo da fotografia, é preciso parar de esperar que te sugiram o que fazer, “se pautar é muito importante. Não espere nunca, sempre sugira. É assim que você mostra interesse e vontade”. Segundo ele, foi dessa forma que conseguiu chamar a atenção de grande parte dos seus contratantes.
Sobre equipamento, Bruno comentou que as lentes mais usadas em seus trabalhos são as fixas 35mm e 50mm. Com essas, ele já produziu imagens para diversas publicações, desde o jornal A Gazeta, no Espírito Santo, à Folha de S. Paulo e a revista TRIP. Entre os importantes trabalhos fotojornalísticos que realizou, ele relembrou dos conflitos com o PCC, em São Paulo, onde conseguiu uma de suas fotos mais importantes: a de um ônibus incendiado. “Tinha um ônibus pegando fogo e todo mundo foi fotografar. Quando cheguei lá, o fogo tinha parado. Fiz umas fotos mesmo assim e ficaram me falando ‘vambora’, e eu respondi: ‘pô, espera um pouco’, e fui tomar um café. Quando terminei, vi uma fumacinha longe. Eu estava com um motorista que morava no bairro e pedi para ele me levar onde estava a fumaça. Quando chegamos lá, o ônibus ainda estava pegando fogo, e foi muito legal porque ninguém tinha feito a foto.” Essas fotografias renderam a sua primeira capa, não somente da Folha de S. Paulo, mais de diversos jornais, inclusive internacionais.
Na conversa, o fotógrafo também disse que, apesar de muitas pessoas reclamarem da banalização da fotografia atualmente, ele não concorda com essa ideia. Pelo contrário, Bruno acredita que hoje é ainda mais difícil ser um bom fotógrafo. “Isso aguçou algo que antes não existia; hoje, o que vale não é apenas a fotografia, mas, principalmente, suas histórias. Hoje, é isso que o fotógrafo é: um contador de histórias”, disse.
Contudo, com essa grande produção fotográfica existente, ele acredita que há uma relação paradoxal no que diz respeito à valorização da imagem. Ao mesmo tempo em que ela é muito importante, a fotografia está se desvalorizando pelo grande número que é produzido, pelo grande fluxo imagético que recebemos todos os dias. “Eu vi a capa da Folha hoje e vi a capa do Estadão. A Folha, por um acaso, eu lembro, porque a foto era muito boa. A do Estadão eu não lembro, e eu não lembro a maioria das fotos que eu vi hoje. Por quê? Porque eu abro uma porcaria de Facebook e aparecem 50 milhões de fotos. É muita informação”.
Hoje, o fotógrafo trabalha na agência Na Lata, que criou juntamente com o amigo, Renato Stockler. Depois de três anos trabalhando na Folha de S. Paulo, Bruno conta que cansou da forma como o jornalismo funciona e, por isso, resolveu investir mais na internet, a fim de conseguir divulgar ainda mais o seu trabalho. Para ele, os jornais são instituições atrasadas e estar sujeito às escolhas da linha editorial limitam muito o trabalho. Apesar de ter achado importante toda a sua trajetória, pois foi assim que chegou onde está hoje, Bruno disse que vive sua melhor fase. Mesmo assim, guarda muitas cartas na manga para planos futuros, planos esses que ele preferiu deixar guardados para si.