Por Catarina Reimão

Professor da Universidade Federal da Bahia desde 1981, Paulo Costa Lima terá peça executada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) nos dias 16 a 18 de abril. O compositor que já teve outra peça executada pela Orquestra (Kabila, em 2000), acumula em seu catálogo mais de 90 peças e cerca de 300 execuções em mais de 15 países.
O currículo de Lima, que é membro da Academia Brasileira de Música desde 2014 (cadeira 21), se estende também com a autoria de três livros e organização de outros dez. Neste ano, ele será, entre os 70 artistas convidados, o único brasileiro com peça encomendada para a abertura da OSESP.

CABINDA: NÓS SOMOS PRETOS
A peça encomendada pela Orquestra a Paulo Costa Lima possui referências rítmicas e melódicas da tradição afro-baiana. O nome, “Cabinda: Nós Somos Pretos” remete a uma famosa cantiga de maculelê, que é a principal inspiração dessa composição.
Segundo Lima, o grande desafio de compor a peça foi imaginar algo com referências tão diversas (vanguardas, candomblé, samba-de-roda, etc) que conseguisse, ainda assim, dar uma sensação de unidade, de integridade do fio narrativo, sem parecer uma mistura. “O que acontece na obra é o confronto de sonoridades e atitudes composicionais díspares”, explica ele sobre sua tentativa de recriar um espelho da sociedade contemporânea e seus paradoxos, aparentemente irreconciliáveis.
OSESP
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo apresenta uma temporada diferente este ano. Com o tema “Lugares da Música”, que faz referência aos lugares específicos onde a música acontece e ao lugar da música na vida de cada um de nós, o programa contempla entre 70 e 80 solistas brasileiros. Além de seis peças encomendadas para compositores brasileiros, entre eles, Paulo Costa Lima.
Passados 15 anos da primeira parceria entre a Orquestra e o compositor, quando o então maestro John Neschling o convidou para o projeto “Criadores do Brasil” (do qual é fruto uma outra composição para a abertura da sinfônica: Kabila), Paulo retorna à OSESP, convidado por Arthur Nestrovsky (diretor artístico) e Marin Alsop (renomada maestra nova-iorquina) com a proposta de uma obra que fosse brasileira e, ao mesmo tempo, contemporânea.
O traço mais marcante dessa parceria, para a OSESP, é a possibilidade de levar as influências africanas para a música de concerto, que é, segundo Nestrovsky, uma característica marcante do trabalho do professor. O momento do convite não poderia ter sido mais oportuno: a eleição de Paulo Costa Lima para a Academia Brasileira de Música, em 2014.
“O Paulo fez essa abertura para a Orquestra que nos deixa muito satisfeitos por tudo que se define: por ter um compositor brasileiro do porte dele, por ter um compositor da Bahia presente aqui na nossa temporada, por ter alguém que trabalha de uma forma tão original, numa linguagem que, ao mesmo tempo, faz uso do dito idioma da música contemporânea experimental e do que há de mais profundo entre as fontes da música e da cultura do Brasil”, completa Nestrovsky.

PAULO COSTA LIMA

“Como compositor, comecei minha vida criativa tentando “imitar” a música dele. O mundo-compositivo de Paulo Lima é daqueles recheados de obras que você ouve e dá vontade de ir para casa compor algo na mesma linha”. O sentimento expresso nas palavras de Paulo Rios, orientando de Paulo Lima, é unânime ao cruzar o portão da Escola de Música da Ufba (EMUS).
Pelos corredores surgem histórias como a do broche, com o brasão da universidade, usado por Eliane Ramos Mensitieri, que trabalha na biblioteca da instituição. “Eu nem sabia que ele fazia essas coisas também! Um dia, ele me parou no corredor e disse: ‘você sabia que fui eu que fiz?’ É uma pessoa fantástica, elegante, simples… Meu pai tocava com ele na Orquestra, vi algumas vezes. Muito bom músico”, declara.
Há ainda aqueles que preferem não se pronunciar, como o caso do compositor Juraci Tavares: “Paulo Costa Lima tem uma carreira fantástica e não seria justo falar dele de qualquer jeito. Ele merece profundo respeito por tudo que ele representa”, afirma.
Além da produção como compositor, Paulo Lima possui longa carreira institucional na Ufba. Iniciou seus estudos na EMUS em 1969, foi membro do Conselho Editorial da Ufba (1984-1988), presidente do Conselho Editoria da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, pesquisador pelo CNPq, chefe de departamento (1986-1988, 1994-1995), diretor da Escola de Música (1988-1992) e hoje desempenha a função de assessor especial do atual reitor, João Carlos Salles.